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Redação matemática

Kurt Vonnegut: "Tenha pena do leitor."

22/05/2017 15:51 | Atualização: 22/05/2017 16:20

Dad Squarisi

Julio Lapagesse/CB/D.A Press
Escrever é mandar recado. Ler é entender o recado. Do conceito, pinta o desafio. Como fazer o leitor entender o recado? São duas etapas. A primeira: ele tem de ler o texto. A segunda: tem de entendê-lo. Sem isso, o autor fracassa. Valha-nos, Deus!

Vamos combinar? Ninguém quer jogar o esforço na lata do lixo. O jeito é dar um jeito. Se o leitor é a vedete da comunicação, vamos conquistá-lo. Estudiosos do tema apresentam receitas. Elas têm um denominador comum. Chama-se sedução. Combinar ingredientes leva ao produto mágico. É o texto fácil.


Texto fácil

Um texto claro, enxutinho e prazeroso não nasce em árvores. É fruto de trabalho — 99% de transpiração e 1% de inspiração. O objetivo é um só: facilitar a vida do leitor. Como? Com frases curtas, ordem direta, palavras simples, economia de adjetivos e advérbios.

Lido, relido, reescrito muitas vezes, eliminam-se repetições, enxotam-se redundâncias, chega-se à clareza. Terá ficado bom? Amigos podem palpitar. Ouça-os. Não só. Há um tira-teima que ajuda — e muito. Trata-se do teste de legibilidade. Aplicando-o, a gente tem ideia do grau de dificuldade da mensagem que mandamos.

O teste

Em que consiste o termômetro? Pegue um escrito seu. Pode ser uma carta, um artigo, uma redação. Depois, siga a receita. Com um cuidado: faça parágrafo por parágrafo.

Eis os passos:
1. Conte as palavras do parágrafo

2. Conte as frases (cada frase termina por ponto)

3. Divida o número de palavras pelo número de frases

4. Some o resultado do passo 3 com o número de polissílabos

5. Multiplique o resultado por 0,4

6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade

Possíveis resultados
1 a 7 = história em quadrinhos

8 a 10 = excepcional

11 a 15 = ótimo

16 a 19 = pequena dificuldade

20 a 30 = muito difícil

31 a 40 = linguagem técnica

acima de 41 = nebulosidade

Aplicação

Vamos ao tira-teima? Avalie a legibilidade do texto publicado no Correio Braziliense:

Até quando usaremos o carro como máquina de matar? Até quando beberemos “socialmente” e sairemos em pegas pelas ruas da cidade, tirando vidas inocentes? Até quando a impunidade dirigirá nossa consciência? Brasília, até há pouco tempo, era exemplo de paz no trânsito. Quando perdemos o humanismo, o respeito ao próximo? Porque, ao beber e dirigir, assumimos o risco de matar, de morrer. É hora de um basta! É hora de nos unirmos.

Resultado

1. Conte as palavras do parágrafo: 72

2. Conte as frases (cada frase termina por ponto): 8

3. Divida o número de palavras pelo número de frases: 9

4. Some o resultado do passo 3 com o número de polissílabos: 19

5. Multiplique o resultado por 0,4: 7,6

6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade: história em quadrinhos


Leitor pergunta

O hífen me provoca enxaqueca. Sempre que posso, fujo dele como os envolvidos na Lava-Jato fogem do juiz Sérgio Moro. Mas nem sempre tenho sucesso. Outro dia, meu filho me perguntou a grafia de “sem noção”. Com tracinho? Sem tracinho? E o plural?
Teresa Costa, BH

O hífen é castigo de Deus. Até o Senhor tem dúvidas no emprego do tracinho. Você, portanto, se enquadra na regra. Mas o Todo-Poderoso dá a cruz porque confia nas criaturas. Elas podem carregá-la. O sem, por exemplo, sempre pede hífen: sem-terra, sem-teto, sem-banco e, claro, sem-noção.

Quanto à flexão, lembre-se. A duplinha é sem-sem-sem — sem masculino, sem feminino e sem plural: Ele é sem-teto e sem-noção. Eles são sem-teto e sem-noção. Ela é sem-teto e sem noção. Elas são sem-teto e sem-noção.