1. Com a transmissão ao vivo das sessões do Supremo Tribunal Federal, as expressões latinas ganharam destaque. Pode falar sobre as mais usadas? (Clóvis Sampaio)
Expulsaram o latim da escola há mais de meio século. Não adiantou. Teimosa, a linguinha bate à porta sem cerimônia. Na televisão, o ministro diz que é demissível ad nutum. O jornal anuncia que o presidente recebeu o título de doutor honoris causa. O advogado afirma que vai entrar com pedido de habeas corpus em favor do cliente.
Mais: a placa do restaurante ostenta o nome Carpe Diem. O professor pede: “Escreva assim, ipsis literis”. O repórter considera sui generis a reação do candidato. O diplomata foi tratado como persona non grata. Dura lex, sed lex, consola o juiz.
Criaturas tão íntimas merecem tratamento respeitoso. A reverência impõe duas condições. Uma: grafá-las como manda a norma culta. A outra: dominar-lhes o significado. Vamos lá?
Ilustres expressões
Ad nutum quer dizer à vontade. O empregado sem estabilidade pode ser demitido segundo o humor do patrão -- a qualquer momento.*
Honoris causa significa pela honra. Para ostentar o título de doutor, a maioria dos mortais tem de ralar. Mas pessoas ilustres podem chegar lá sem exame. Tornam-se doutores honoris causa.
*
Habeas corpus é o nome da lei inglesa que garante a liberdade individual. Em português claro: que tenhas o corpo livre para te apresentares ao tribunal.
*
Carpe Diem dá o recado: aproveita o dia de hoje. A vida é curta; a morte, certa.
*
Ipsis literis tem a acepção de textualmente -- sem tirar nem pôr.
*
Sui generis: ímpar, sem igual.
*
Persona non grata: usada em linguagem diplomática para dizer que a pessoa não é bem-aceita por um governo estrangeiro. Pessoa que não é bem-vinda.
*
Dura lex sed lex? Está na cara, não? É isso mesmo. A lei é dura, mas é lei.
Marca registrada
Reparou? As expressões latinas não têm acento nem hífen. Se aparecer um ou outro, elas perdem a originalidade. Entram, então, na vala comum dos compostos. Ganham hífen. Compare: via crucis e via-crúcis, habeas corpus e hábeas-corpus.2. O ministro do Trabalho deu adeus ao cargo. Li, a propósito, esta frase: “O ministro informou os colegas que deixará a pasta". A regência do verbo informar está correta? (Carlos Barbosa)
Informar alguém alguma coisa? Nem pensar. Informa-se alguma coisa a alguém. Assim: O ministro informou aos colegas que deixará a pasta.
3. A conjugação do verbo possuir segue o figurino da 3ª conjugação? (Maria Celeste)
Possuir foge à regra. O desvio reside na 3ª pessoa do singular. Os irmãozinhos terminam com e (ele parte). Possuir pulou a cerca. Trocou o e pelo i. Muita gente desconhece o resultado. Escreve "possue". Peca. A saída? Ajoelhar-se, pedir a compaixão divina e aprender a lição: eu possuo, ele possui, nós possuímos, eles possuem. (A regra vale para a turma uir. Entre eles, contribuir e retribuir: contribui, retribui).
4. Medida provisória, lei, decreto, portaria, ordem de serviço -- inicial maiúscula ou minúscula? (Glória Azevedo)
Depende. Quando se especifica o número ou o nome, o ato vira nome próprio. Letra maiúscula: Lei nº 1.512, de 21.1.94; Medida Provisória 452; Decreto 9.134; Lei Afonso Arinos, Lei Antitruste.
Na segunda referência ou na ausência de número, letra minúscula: A Medida Provisória nº 542, de 30.6.94, criou o real. Depois de sucessivas reedições, a medida provisória foi transformada na Lei 9.069, de 30.6.95.
Artigos, parágrafos e incisos são coisas menores. Letra minúscula sempre.