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Todo & cia.

"Nunca aprendemos finalmente, mas provisoriamente. Tudo que se aprende se desgasta, tudo que foi novo envelhece." Skinner

19/04/2018 12:23 | Atualização: 19/04/2018 12:54

Dad Squarisi

“Todos setores temem o futuro”, escreveu o Correio Braziliense. Leitores ficaram com a pulga atrás da orelha. Leram e releram a frase. Tornaram a fazê-lo. Deram-se conta de que algo estava destoando. O pronome? Não. O substantivo? Não. Eureca! O texto sonegou o artigo. Sem ele, fica o dito pelo não dito. A construção é ilustre desconhecida na língua de Camões, Machado e Clarice.

Dois times

O pronome todo é cheio de manhas. Ora aparece no singular. Ora no plural. Ora acompanhado de artigo. Ora solitário — livre e solto, sem lenço e sem documento.

Todo

O dissílabo, no singular e sem companhia, significa qualquer, inteiro: Todo (qualquer) país tem uma capital. Todo (qualquer) homem é mortal. Li o livro todo (inteiro). Todo brasileiro tem direito à educação de qualidade. Percorreu a casa toda sem encontrar o que procurava.

Todo o

No singular, de mãos dadas com o artigo, o pronome quer dizer inteiro: Li todo o livro. Assisti a todo o filme. Conheço todo o mundo. Percorri todo o trecho, mas não localizei o endereço indicado.

Todos os

A dupla plural é pra lá de poderosa. Engloba todas as pessoas ou representantes de determinada categoria, grupo ou espécie: Todos os governadores compareceram à reunião. Todos os que quiseram retiraram a senha e participaram do sorteio. Dirigiu-se a todos os presentes. A sociedade quer todas as crianças em escolas de qualidade.

O desnecessário sobra

Atenção à manha de todos os. Em muitas construções, o pronome é desnecessário. O artigo sozinho dá o recado. Veja: Na reunião com todos os grevistas, o governador apresentou a proposta. Reparou? O todos sobra. A presença do artigo informa que são todos: Na reunião com os grevistas, o governador apresentou a proposta. (Não são todos? Xô, artigo: Na reunião com grevistas, o governador apresentou a proposta.)

Sem confusão

O artigo é pequeno. Mas faz senhora diferença. Veja, por exemplo, todo mundo e todo o mundo:

Todo mundo é forma coloquial. Significa todos: Todo mundo aplaudiu o convidado. Todo mundo considerou o discurso realista. Nem Cristo agradou a todo mundo.

*

Todo o mundo quer dizer o mundo inteiro: Passou a vida viajando. Conhece todo o mundo. O sonho da Vera é conhecer todo o mundo. Será possível? Talvez precise morar em aviões e aeroportos.

Relações cortadas

Sabia? As palavras se parecem com as criaturas humanas. Fazem agrados, dizem desaforos, cortam relações. O pronome todos não foge à regra. Ele é inimigo do numeral dois (todos os dois). Não os junte. Diga os dois ou ambos.


Xô, pleonasmo

Todos foram unânimes? Nãoooooooooo! É pleonasmo. Unânime é relativo a todos. Melhor ficar com um ou outro. Desça do muro: Todos concordaram. A decisão da diretoria foi unânime.


Todo-poderoso

Sabia? Todo costuma mudar de classe. Deixa de ser pronome e se bandeia pro time dos advérbios. Aí, não dá outra. Com o sentido de totalmente, torna-se invariável — sem feminino, masculino, singular ou plural: o todo-poderoso, os todo-poderosos, a todo-poderosa, as todo-poderosas.

Leitor pergunta

Certas palavras me confundem. É o caso de tampouco e tão pouco. Como soam de forma quase igual, nunca sei quando escrever uma ou outra. Pode me dar uma ajuda?
Carlinda Soares, BH

Tampouco = também não, muito menos. Tão pouco = muito pouco: Maria não fez a prova e tampouco deu explicações. Se não tem dinheiro para ir a São Paulo, tampouco terá para ir a Buenos Aires. O candidato falou tão pouco que surpreendeu. Comeu tão pouco que deixou a mãe preocupada. Peço tão pouco!