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Barrados no baile

'É antiético falar mal de um colega, mas Deus sofre de milenar falta de imaginação. Suas peças têm o mesmo e previsível desfecho %u2014 a morte.' Dias Gomes

21/12/2018 14:14

Dad Squarisi

Que confusão! O Itamaraty disse que não convidou Venezuela e Cuba para a posse de Jair Bolsonaro. Os embaixadores dos dois países afirmaram o contrário. Armou-se o barraco. Depois de bate-boca nada diplomático, a verdade veio à luz. Ambos os governos foram convidados. Depois, desconvidados.


Na hora do noticiar o vexame, pintou a dúvida. Relacionava-se ao emprego da crase: convite feito a Cuba? À Cuba? A Venezuela? À Venezuela? Para chegar à resposta, impunha-se decifrar um mistério: descobrir se o nome do país pede ou não pede artigo. É fácil. Basta recorrer a truque pra lá de conhecido. Construir uma frase com o verbo voltar e seguir a orientação do versinho:

Se, ao voltar, volto da, crase no a.

Se, ao voltar, volto de, crase pra quê?

Vamos lá: volto da Venezuela. Volto de Cuba. Eureca! Decifrado o mistério: Convite feito à Venezuela. Convite feito a Cuba.

Tropeço no Twitter

“Diferente do que diz o corrupto preso Lula sobre o novo governo ser preconceituoso por retirar médicos cubanos do país, foi Cuba que os retirou por recusar-se a pagar salário integral a eles… Oferecemos asilo aos que querem ficar”, postou Jair Bolsonaro no Twitter. Ops! O presidente eleito trocou classes gramaticais. Diferente e diferentemente pertencem à mesma família. Mas cada um tem sua função.

Diferente é adjetivo. Concorda com o substantivo a que se refere: cor diferente, cores diferentes, programa diferente, programas diferentes.

Diferentemente joga no time dos advérbios. Invariável, quer dizer de forma diferente: Diferentemente do informado, a sessão começa às 14h. Diferentemente do que diz o corrupto preso Lula…

Questão de regência

“Há 50 anos chegava a Brasília, pela primeira vez, um trem de passageiros”, escreveu o Correio Braziliense. Nota 10. A gente chega a algum lugar: Cheguei a Santos. Maria chegará ao Rio na sexta. O navio chegou ao porto às 10h. Chegamos ao trabalho atrasados porque perdi o ônibus.

Em bom português

João de Deus se entregou à polícia. Estava acompanhado do advogado que chamava a atenção para o estado de saúde do médium. “Ele é cardiopata”, informou o doutor. Muitos não entenderam a que doença ele se referia. Que tal esclarecer? A etimologia da palavra ajuda. Cardio- vem do grego kardia. Quer dizer coração. Aparece na composição de vários vocábulos: cardiopatia (doença do coração), cardiologista (especialista em doenças do coração), cardioinibitório (que impede os batimentos do coração).

Por falar em João de Deus...

O médium é acusado de vários crimes. Entre eles, estupro. Muitos tropeçam na pronúncia do vocábulo — trocam o lugar das letras. Dizem “estrupo”. Nada feito. Pra respeitar os ouvidos dos outros, faça um treino pra lá de simples. Diga em voz alta sílaba por sílaba da palavra. Três vezes: es-tu-pro.

Leitor pergunta

Diálogo envolve sempre duas pessoas?
Maria Antunes, Rio

Muitos pensam que diálogo é conversa entre duas pessoas. Pode até ser. Mas não necessariamente. A greguinha tem duas partes. Uma: diá, que quer dizer através de. A outra: logos, que significa palavra, estudo, tratado. Em bom português: trata-se de entendimento por meio da palavra. O número de participantes não conta. Podem ser dois, cinco, cinquenta.

Havia muito poucos candidatos? Havia muitos poucos candidatos? Sempre que uso a duplinha, fico inseguro. Pode me ajudar?
Clóvis Silva, Bela Vista

Na locução muito poucos, o muito morre de preguiça. Não quer saber de feminino ou plural. Permanece invariável: Havia muito poucos candidatos ao curso de artes. Eram muito poucas as chances de conseguir bom emprego. Comprar poucos presentes? Põe poucos nisso. Vou comprar muito poucos presentes.