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Temer e o truque do três

'Mãe é mãe. Genitora é a tua. Progenitora é a vó.' Carlos Lacerda

09/01/2019 19:50

Dad Squarisi

Michel Temer passou a faixa presidencial em 1º de janeiro. Momentos depois, tuitou: “Encerrei meu mandato como presidente do Brasil. Agradeço a todos. Valeu cada obstáculo vencido, cada momento vivido, cada conquista alcançada. Não poupei esforços, nem energia e sei que entrego um Brasil muito melhor para todos os brasileiros”. O ex-presidente sabe das coisas. Recorreu a uma regra do estilo para dar charme ao texto. Trata-se do truque do três.


Ninguém sabe por quê. Mas trios bajulam os ouvidos. Pai, Filho e Espírito Santo formam a Santíssima Trindade. “Liberdade, igualdade e fraternidade” é o lema da Revolução Francesa. “Governo do povo, para o povo, pelo povo”, proclamou Abraham Lincoln. “Vim, vi e venci”, orgulhou-se Júlio César. “Valeu cada obstáculo vencido, cada momento vivido, cada conquista alcançada”, escreveu Temer. Palmas pra ele.

Mesmo time

Primeira-dama joga no time de primeiro-ministro. Ambos formam o plural com o acréscimo do s no numeral e no substantivo: primeiras-damas, primeiros-ministros.

Marido ou esposo?

Bolsonaro se refere a Michelle como minha esposa. Michelle se refere a Bolsonaro como meu esposo. Há quem questione a palavra. Não seria preferível marido e mulher? É preferível. Não obrigatório. Marido e mulher são vocábulos mais comuns.  “Eu os declaro marido e mulher”, diz o padre durante a cerimônia de casamento.

A história é antiga. Pintou em 1974, quando a Globo estudava os diálogos da novela Rebu. Sem resposta em casa, a emissora contratou pesquisa especializada. Resultado: pobres e ricos preferem mulher. A classe média se inclina por esposa.

Bolsonaro e o futuro

“Pela primeira vez, o Brasil irá priorizar a educação básica”, disse Bolsonaro no discurso de posse. Acertou na meta. Bobeou no tempo verbal. O português tem duas formas de indicar o porvir. Uma: futuro simples (priorizarei, priorizará, priorizaremos, priorizarão). A outra: futuro composto, formado com o presente do indicativo do verbo ir + o infinitivo do verbo principal: vou viajar, vamos vender, vão sair.

Reparou? Bolsonaro trocou o presente pelo futuro. Disse “irá priorizar”. Nada feito. Melhor corrigir para que os céus digam amém: Pela primeira vez, o Brasil vai priorizar a educação básica.

Caprichos do plural

“Quero agradecer as honrosas presenças de todos”, disse Eunício Oliveira na solenidade de posse de Jair Bolsonaro. Ops! O presidente do Senado se perdeu no tempo e na língua. Fez um discurso sem fim. Como quem fala demais dá bom-dia a cavalo, ele deu. Pôs no plural nome que deveria estar no singular.

Presença pertence a uma turma pra lá de caprichosa. Tem plural. Mas, em certos empregos, só aceita o singular. É o caso da propriedade que se refere a dois ou mais sujeitos: USP divulga nome (não nomes) dos aprovados no vestibular. A polícia apura a identidade (não identidades) dos mortos no atentado. O técnico confirmou a escalação (não escalações) dos novos jogadores. Cerca de 12 milhões de pessoas perderam o emprego (não empregos). Com a venda (não vendas) da casa e do apartamento, pôde saldar a dívida. Quero agradecer a honrosa presença de todos.

Leitor pergunta

Depois de dois-pontos, usa-se letra maiúscula ou minúscula?
Marilene, Santos

Depois de dois-pontos, Marilene, ora se usa letra maiúscula, ora minúscula. Depende do que vem depois:

1. Se for enumeração ou explicação, é a vez da pequenina: A questão era esta: perdera a eleição. Na livraria, comprou as seguintes obras: o dicionário do Houaiss, a gramática do Celso Cunha e o livro Raízes do Brasil.

2. Se for citação ou a frase de alguém, a grandona pede passagem: Fernando Pessoa escreveu: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. O ministro respondeu sem pestanejar:“Nada tenho a declarar”.