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Quem é quem

"A resposta certa não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas." Mario Quintana

03/04/2019 09:06 | Atualização: 10/04/2019 19:11

Dad Squarisi

O pronome mais requisitado nestes tempos bicudos? É ele mesmo — o quem. Quem apoia a reforma da Previdência? Quem é o delator da vez? Quem falou a verdade? Quem mentiu? Quem disse isso? Quem fez aquilo? A resposta é sempre alguém. A razão: o quem, pra lá de elitista, adora gente. E só gente. Sempre que aparece, não fala de coisas.

Simples, não? Mas o mundo é cheio de descuidados. Com frequência, as pessoas desatentas agridem o quem. Uma das violências contra o pequenino é empregá-lo em frases como a de Romero Jucá. Em artigo publicado ontem, o ex-senador escreveu a propósito da reforma da Previdência: “No final das contas, a política é quem vai decidir”.


Primeiro tropeço

Observou o tropeço? Política não é pessoa. Por isso construções como essa pegam mal como arrotar à mesa, furar fila ou dirigir sem cinto de segurança. Comprometem reputações e matam amores. A boa forma recorre ao pronome que: No final das contas, a política é que vai decidir.

Segundo tropeço

Há outra violência muito comum contra o quem. Volta e meia ele aparece em textos acompanhado da preposição a. Disfarçado. Como quem não quer nada. Assim:

O Senado Federal, a quem compete autorizar empréstimos externos, é composto de 81membros.

Cruz credo! Benza-nos Deus! O Senado Federal não é pessoa. O quem fica longe dele. Xô! Dê a vez ao pronome qual:

O Senado Federal, ao qual compete autorizar empréstimos externos, é composto de 81 membros.

Resumo da opereta

Guarde isto: o pronome quem só gosta de gente.

Desperdício

“Não há outra alternativa. Tem de aprovar a reforma da Previdência”, disse Jair Bolsonaro lá em Israel. Ops! Esbanjou palavras. Alternativa não é sinônimo de opção. A alternativa se escolhe entre duas opções. Por isso, o pronome outra sobra. A razão: a alternativa é sempre outra. Que tal economizar? Não há alternativa.

É isso.

Uiiiiiiiiiiii!

A parte mais sensível do corpo? É o bolso. Esta semana ele geme de dor. Por quê? O preço da gasolina disparou. São dois os responsáveis — a alta do dólar e a valorização do barril de petróleo no mercado internacional. A imprensa noticiou o fato, claro. Não deu outra. Repórteres disseram que “o preço da gasolina está caro”. Bobearam.

Caro e barato estão embutidos na palavra preço. Por isso, o preço é alto ou baixo. O bem ou serviço é que são baratos ou caros: A gasolina está cara. O etanol está barato? Não. Também está caro. Comer fora custa cada vez mais caro. É mais barato fazer as refeições em casa.

Que barato!

A origem de barato? Só podia ser ela. A palavra vem da língua do povo que mais sabe negociar no mundo. É o árabe. No idioma de Maomé e de Camões, mantém o significado: preço baixo. Ora, como o corpo é a parte mais sensível do corpo, o brasileiro lhe acrescentou um ingrediente. Diz “o maior barato”. Eta coisa boa! 

Comércio

Notícia alvissareira: “Balança comercial de março tem saldo positivo de US$ 4,9 bilhões”. Significa que o Brasil exportou mais do que importou. Em bom português: vendeu mais do que comprou. Mais produtos brasileiros foram para o exterior. Menos produtos estrangeiros entraram no Brasil. 
 

Leitor pergunta

É correto falar em erro de ortografia?
Márcia Coimbra, Porto Alegre

Não. Ortografia significa escrita correta das palavras. A forma nota 10 é erro de grafia (erro de escrita).

Mau-caráter tem plural? Imagino que sim. Mas não tenho certeza.
Vera Serena, Guarujá

Ele é mau-caráter. E eles? Eles são maus-caracteres.