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Xô, confusão

"Os homens de poucas palavras são os melhores." Shakespeare

07/04/2019 08:03 | Atualização: 10/04/2019 19:09

Dad Squarisi

“Português é uma língua muito difícil”, dizem por aí. Há quem diga que é a mais difícil do mundo. Será? Todas as línguas de cultura são complexas. Têm sua fonética, sua ortografia, suas flexões, suas regras de colocação. O português não foge à regra. Joga no time do francês, do inglês, do alemão, do espanhol, do russo. Será o mais difícil? Aposto que não. Claro que ele, como os demais, tem complexidades. Uma delas: semelhanças que confundem. Manhas da grafia, por exemplo. Às vezes, uma letra faz a diferença.

Pleito e preito

Pleito é eleição, debate, litígio. Preito é homenagem: O pleito de 2018 foi um dos mais polarizados desde a redemocratização do país. Em Israel, Bolsonaro fez um preito às vítimas do holocausto.


Ratificar e retificar

Ratificar é confirmar. Retificar é modificar, corrigir: O governo ratifica o contrato. O proprietário retificou duas cláusulas do contrato.

Ruço e russo

Ruço é pardacento, complicado. Russo é o natural ou originário da Rússia: A reforma está ruça. O conflito ficou ruço. Os russos adoram vodca.

Postar-se e prostrar-se

Postar-se é colocar-se. Prostrar-se é abater-se, ficar sem ação: A tropa postou-se diante do visitante. O dono da casa se prostrou ao ver o ataque dos invasores fortemente armados.


Tampouco e tão pouco

Tampouco é também não, muito menos. Tão pouco é muito menos: Paulo não tem dinheiro para ir a São Paulo e tampouco para ir à Alemanha. Não gosta de andar e tampouco de correr. Falou tão pouco que não conseguiu completar a explicação. Peço tão pouco!


Tilintar e tirintar

Tilintar é soar. Tirintar é tremer: A campainha tilintou várias vezes. Os gaúchos tirintam de frio quando sopra o Minuano.

Vultoso e vultuoso

Vultoso é alto, elevado. Vultuoso, atacado de vultuosidade (congestão facial): Fez um vultoso empréstimo antes de viajar. Paulo chegou vultuoso.

Viagem e viajem

Viagem é jornada. Viajem é forma do verbo viajar (3ª pessoa do plural do presente do subjuntivo): Viajem e façam boa viagem.


Vívido e vivido

Vívido é ardente, intenso. Vivido é experiente, de vida longa: “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido / De amor e de esperança à terra desce, / Se em teu formoso céu, risonho e límpido, / A imagem do Cruzeiro resplandece.” Trata-se de homem maduro e bem vivido. Eram tempos idos e vividos.

Todo mundo e todo o mundo

Todo mundo é todos. Todo o mundo é o mundo inteiro: Falei com todo mundo, mas ninguém me deu atenção. Quer conhecer todo o mundo. Nem todo mundo conhece todo o mundo.

Leitor pergunta

A gráfica que imprime com método seguro as provas do Enem decretou a autofalência. A notícia me lembrou o verbo falir. Como conjugá-lo?
Maria Beatriz, Juiz de Fora

Falir joga no time dos defectivos, verbos que não se conjugam em todas as pessoas, tempos e modos. Por quê? Alguns por eufonia. Soam mal. “Eu coloro”, de colorir, está nesse grupo. “Eu abolo”, de abolir, também. Outros armam confusão. É o caso de falir. Há formas que coincidem com as do verbo falar — eu falo, ele fale. Amante da clareza, falir cede. Dá a vez à ação mais comum.

Ele só se conjuga nas formas em que não se confunde com falar. São aquelas em que aparece o i depois do l. No presente do indicativo, apenas o nós e o vós têm vez (falimos, falis). O presente do subjuntivo não existe. Os demais tempos conjugam-se normalmente: fali, faliu, falimos, faliram; falia, falia, falíamos, faliam; falirei, falirá, faliremos, falirão; faliria, faliria, faliríamos, faliriam; falindo; falido.

Lembre-se, Maria Beatriz: as formas inexistentes podem ser supridas. O verbo quebrar é uma saída. A expressão abrir falência, outra.