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Vale a pena abrir mão do emprego para cair de cabeça no mundo dos concursos?

'Arriscado sempre é, mas não conheço ninguém que não tenha estudado integralmente, e de forma correta para concurso, e não tenha passado', assegura especialista

10/03/2016 10:00 | Atualização: 09/03/2016 15:18

Do CorreioWeb

Giphy.com/Reprodução
Sair do emprego em tempos sombrios de crise financeira requer coragem. Bem ou mal, você já tem trabalho e um salário. Porém, a instabilidade do mercado privado, remuneração insatisfatória, falta de perspectiva de crescimento da carreira e fatores esporádicos, que vão desde um ambiente sem estrutura física a uma convivência desgastada com os colegas, levam a pensar em uma alternativa melhor. Passar em um concurso público se tornou a escolha de algumas pessoas nessa situação. Além de estabilidade e um bom salário, elas procuram um novo panorama de vida, e querem tanto mudar que abandonam sua zona de conforto para se dedicar exclusivamente aos estudos.

Com 29 anos, uma casa alugada e dois filhos, Esdras Angelo teve de abdicar de seu trabalho pouco promissor como músico em uma escola para dar mais estabilidade a família. “Já faz um ano que eu estou estudando por conta própria para concursos, mas não tenho condições de pagar cursinho. Hoje estudo para o ILNSS e uso a internet para me preparar”.

Junto ao apoio financeiro de familiares, Esdras ainda consegue bicos como professor isso têm ajudado na hora de pagar as despesas. “A situação no país não está fácil. Não queria ser um trabalhador assalariado humilhado. Tive que abdicar de tudo para ter uma vida melhor e creio que a única opção é o serviço público”, acredita o concurseiro que se dedica aos estudos integralmente.

O momento crítico que vive o mercado privado também foi sentido por Bruno Barbosa. A falta de incentivo e melhores condições de trabalho fizeram com que ele optasse pela segurança do serviço público. Já no final do curso de graduação em administração pública, Bruno teve que abrir mão da própria empresa para garantir melhores resultados e perspectivas na carreira e no mercado. Hoje, após abdicar do seu empreendimento, ele estuda no cursinho preparatório Gran Cursos e depende da família para se manter. “Eu acho que foi uma boa escolha me entregar aos concursos. A seleção me inscrevi, da Anac, atualmente é muito disputada. Acredito que possa ser conciliado o trabalho com estudos, mas a aprovação será mais tardia. Quando você se dispõe a estudar em período integral ajuda, e muito”, afirma. Bruno já está há três anos em busca da aprovação. A média de dedicação é de oito a dez horas por dia. “Vivemos em função do concurso. Acabamos abrindo mão não apenas do emprego, mas da vida social e de gostos pessoais para conseguir alcançar nossos objetivos”.

Ainda que as dificuldades sejam grandes, as chances de passar aumentam quando a dedicação e foco do aluno se voltam para os estudos. Segundo o professor Deodato Neto, do IMP Concursos, “a dedicação verdadeira é aquela que possui um foco. Não adianta estudar sem direção, sem disciplina, sem material e professores adequados. Existem pessoas que estudam 21 horas por dia e ao invés de ganharem tempo com isso, elas perdem”, alerta.

Para quem pretende se aventurar, Deodato acrescenta que é preciso notar os cenários do mercado de trabalho e do próprio ritmo de rendimento do candidato. Porém, a base financeira precisa ser segura antes de ser dado o primeiro passo para uma rotina focada somente em concursos. “O ideal é saber se a pessoa tem um bom pé de meia para deixar de trabalhar. Se ela não tem essa infraestrutura e pode conciliar o trabalho com o estudo, é melhor que ela crie essa base e depois se jogue de cabeça. Saber identificar a hora certa nessa conciliação é prestar atenção nas pontuações de provas feitas anteriormente. Se os acertos estão caminhando para 60 ou 70% vale a pena tentar”. O professor garante que o risco é válido se a organização e a dedicação andarem juntas. “Arriscado sempre é, mas não conheço ninguém que não tenha estudado integralmente e de forma correta para concurso e não tenha passado”, assegura.

Arquivo pessoal
Roberto Ferreira realiza sonho e, como servidor técnico em enfermagem, vacina a própria filha
Aprovado

Para Roberto Ferreira, as escolhas tomaram o rumo desejado. Antes de tomar posse, em 2013, como técnico em enfermagem na Secretaria de Saúde do Distrito Federal, ele lembra ter enfrentado grandes obstáculos para chegar onde chegou. “Na época, morávamos de aluguel. Minha mulher, já servidora, era meu espelho e me motivava muito. Ela abraçou a causa, segurou a onda na casa, em questões como alimentação e pagamento das contas, mas não conseguiu por muito tempo. Chegamos a morar com minha mãe porque não conseguíamos mais pagar aluguel. Eu investi tudo o que podia para poder estudar”, recorda.

Após 12 horas de estudos diários, Roberto finalmente conseguiu aprovação, mas ainda teve que esperar um ano depois da homologação do concurso para ser convocado. “Enquanto a posse não chegava, comecei a dar aula teórica em auto escola e continuei morando na casa da minha mãe. Ainda precisava pagar as contas e, como o concurso exigia prova prática, tive que pagar outro cursinho para me preparar melhor para a fase eliminatória”. A escolha foi difícil, mas a melhor que poderia ter feito. Após três anos de estágio probatório, Roberto hoje estará no seu cargo definitivo em julho. “Eu não conseguia passar entre as vagas porque meu tempo de estudo era pouco. Quando eu larguei o emprego dediquei 12 horas diárias para o estudo, em três meses eu consegui a convocação. Eu fiquei entre os melhores. Eu tive esse sucesso graças as pessoas que me apoiaram e ao meu próprio esforço”, comemora.