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Verbos traiçoeiros

"Você não conhece bem uma pessoa até que receba uma carta dela." Ada Leverson

30/07/2018 15:27 | Atualização: 30/07/2018 15:31

Dad Squarisi

Filha dos homens, que são filhos de Deus, a língua persegue a excelência. O verbo é seu principal instrumento. Ele fala. Dá o recado. Com ele mostramos as nuanças de pessoa, tempo e modo. Pra chegar lá, impõe-se conjugá-lo como mandam os mestres. Os regulares não oferecem problema. As ciladas se encontram nos irregulares. Vamos aos rebeldes.


Extorquir

Eta verbinho mau caráter. Olho nele. Conjugue-o só nas formas em o qu for seguido de e ou i (extorque, extorqui, extorquirá, extorquiria, extorquiremos etc. e tal). Eu extorquo, que eu extorqua? Nem pensar. O qu vem seguido de o e a. Xô, criaturas traiçoeiras.  

Falir

Falir joga no time dos preguiçosos. Defectivo, só se flexiona nas formas em que aparece o i depois do l ( falimos, falis, fali, falia, falira, falirá, faliria). Sabe a razão da manha? Se ele abrir as porteiras para o a, e ou o, será confundido com falar (falo, fale, fala). Já imaginou? Ninguém quer perder a personalidade.

Sobretudo se a língua, pra lá de rica, oferece outras possibilidades de substituir as formas inexistentes: abrir falência, quebrar.

Perdoar

O vício de Deus? É perdoar. Daí a generosidade do verbo. Ele pode jogar em quatro times:

  1. Intransitivo, sem complemento: Perdoa para seres perdoado.
  2. Transitivo direto (perdoar alguém ou alguma coisa): Deus perdoa as ofensas. Perdoai os nossos pecados, Senhor. O pai perdoa o filho.
  3. Transitivo indireto (perdoar a alguém): A Receita perdoa aos devedores. Deus perdoa aos pecadores. Perdoou aos assassinos do filho.
  4. Transitivo direto e indireto (perdoar alguma coisa a alguém): O patrão perdoou aos empregados as falhas cometidas. Deus lhes perdoou os pecados. A lei perdoou a dívida aos devedores.  

A regência muda. Mas a conjugação se mantém. Perdoar pertence à equipe dos verbos terminados em –oar. É o caso de voar, abençoar & cia.: perdoo (voo, abençoo), perdoa (voa, abençoa), perdoamos (voamos, abençoamos), perdoam (voam, abençoam). E por aí vai.

Ler & cia.

Ler, crer, ver, dar & familiares adoram complicar a vida dos pobres lusófonos. A cilada se esconde no presente do indicativo. A 3ª pessoa do singular termina em ê. A 3ª do

plural dobra o e. Assim: ele lê, eles leem; ele crê, eles creem; ele vê, eles veem; ele dê, eles deem.

Reparou? A reforma ortográfica cassou o chapeuzinho que aparecia no hiato ee. Os pesadões lêem, crêem, vêem e dêem ficaram mais leves. A família deles foi atrás: releem, descreem, reveem etc. e tal.  

Têm, vêm

Parecido não é igual. Mas confunde. Ter e vir são fregueses da troca de Germano por gênero humano. A 3ª pessoa do plural dos dois verbinhos não tem nada a ver com a turma do ver, ler, crer e dar. Ela não dobra o e. E tem acento: ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm.  

Dá / dar; está / estar

Muitos não querem pecar contra a conjugação. Mas, sem saber como agir, apostam no “mamãe mandou”. Quase nunca acertam. É que a Lei de Murphy está em pleno vigor. O que pode dar errado dá.

Quando usar o infinitivo ou o presente do indicativo? Dois verbos encabeçam a dúvida. Um é dar. O outro, estar. Resposta: o infinitivo (dar e estar) detesta a solidão. Anda sempre acompanhado: eu posso dar (estar), ele deve dar (estar), nós vamos dar (estar), eles conseguem dar (estar), eu comecei a dar (estar).

Dá e está são formas conjugadas. Trata-se da 3ª pessoa do singular do presente do indicativo: eu dou, ele dá; eu estou, ele está.

Leitor pergunta

Internet: letra maiúscula ou minúscula?
Carlos Alberto, Guará

Na origem, internet era nome próprio. Escrevia-se com a inicial maiúscula. Agora, dá nome a uma mídia, como rádio, jornal, televisão. Tornou-se substantivo comum. Sem pedigree, é senhora vira-lata. Grafa-se com letras pequeninas.