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Frustrados, concurseiros pedem efetividade nas punições a fraudadores

A Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco) prendeu quatro integrantes da Máfia dos Concursos e cumpriu, na última segunda-feira,16 mandados de condução coercitiva e 12 de busca e apreensão

23/08/2017 06:42 | Atualização: 23/08/2017 07:38

Ana Viriato

Ed Alves/CB/D.A Press
Policiais civis recolheram, na segunda-feira, dois CDs e um HD externo no Cebraspe, localizado na UnB
A remodelação da organização criminosa que frauda seleções públicas atingiu em cheio os sonhos dos concurseiros de plantão. A atuação da máfia despertou, ainda, reações de indignação no primeiro escalão do Executivo local e em instituições. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) garantiu que atuará para tentar reverter o prejuízo causado aos “verdadeiros” concorrentes, em decorrência do esquema fraudulento. “Quem comprou vaga tem de sair”, cobra o presidente da Comissão de Fiscalização de Concursos da OAB no DF, Maurício Nicácio.
 
A despeito do posicionamento, ele ressalta que é imprescindível respeitar o princípio da presunção de inocência e o espaço ao contraditório. “Tem de haver processo no âmbito administrativo ou judicial, sempre garantindo ampla defesa e contraditório.  Não é possível fazer uma exoneração de ofício, temos de aguardar os processos”, comenta.
 
A Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco) prendeu quatro integrantes da Máfia dos Concursos e cumpriu, na última segunda-feira,16 mandados de condução coercitiva e 12 de busca e apreensão. Um deles, no Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), organizadora de diversos certames e localizada na Universidade de Brasília (UnB). Em nota, a entidade informou que “apoia a investigação e é a maior interessada em esclarecer os fatos”.

Sob suspeita

Frustrados, os concurseiros esperam efetividade nas punições dos que aderiram à organização criminosa. “Para eles, uma hora, a casa vai cair. Para nós, não. A nossa vez vai chegar da maneira correta”, afirma José Orlando, 53 anos, morador de Valparaíso (GO). Ele divide a rotina entre o trabalho, o curso preparatório e os estudos em casa há seis anos. Para alcançar um cargo em um tribunal de Justiça, por diversas oportunidades, ele deixa mulher, quatro filhos e quatro netos em segundo plano. “Dá uma tristeza muito grande. Tiramos de onde não temos para pagar aulas, materiais e passagem. Tudo para agir da maneira correta e, com a realização do nosso sonho, garantir estabilidade à família”, lamenta.
 
Na mesma sala de José, estuda Carlos Vinícius, 35. Com o sonho de alcançar uma vaga no Senado Federal, ele estuda para o certame há 10 anos. “É frustrante. Vemos pessoas com um alto poder aquisitivo que, em vez de investirem em estudos, usam os valores para comprar cargos e passar na frente de quem realmente se esforça”, critica o morador de Ceilândia. “Esperamos o aprofundamento das investigações. Perguntamo-nos quantas pessoas e bancas examinadoras estão envolvidas”, acrescenta.
 
Segundo a Polícia Civil, todas as seleções realizadas desde 2013 estão sob suspeita. A corporação passa um pente-fino nos certames realizados no período. Há indícios de irregularidades, inclusive, em concursos nacionais. Ao decorrer das diligências, os dados serão repassadas à PF.